quinta-feira, 28 de abril de 2011

O Semeador de Estrelas

"Às vezes, nossa vida é colocada de cabeça para baixo, para que possamos aprender a viver de cabeça para cima."

Existem momentos em nossa vida que, por mais que queiramos, não conseguimos enxergar o óbvio...

O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia.


Durante o dia passa despercebida...



... Mas quando a noite chega, a estátua justifica seu nome...



Que possamos sempre ver além daquilo que está diante de nossos olhos, hoje e sempre!!!


Email enviado por uma querida mãe de ex-aluno Lume, a Auristela!!

terça-feira, 26 de abril de 2011

O que é a Páscoa?




- Papai, o que é Páscoa?

-Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!

-Igual ao Natal?

-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressureição.

-Ressurreição?

-É, ressurreição. Marta, vem cá !

-Sim?

-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.

-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

-O Espírito Santo também é Deus?

-É sim.

-E Minas Gerais?

-Sacrilégio!!!

-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

-Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

-Coelho bota ovo?

-Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!


- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

-Era... era melhor, sim... ou então urubu.

-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia ele morreu?

-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

-Que dia e que mês?

- (???)
Sabe que eu nunca pensei nisso ? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.

-Um dia depois!

-Não três dias depois.

-Então morreu na Quarta-feira.

- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!

-Como?

- Pergunte à sua professora de catecismo!

- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

- É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no Sábado?

- Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!

- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

-Ai...

- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

-Cristo. Jesus Cristo.

-Só ?

-Que eu saiba sim, por quê?

-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

-Ai coitada!

-Coitada de quem?

-Da sua professora de catecismo!

(Luiz Fernando Veríssimo)




Desejamos a todos uma ótima Páscoa...


(Imagem: Desenho de lousa - Páscoa/ artista: Elisabete Cândido)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Saco de lixo de jornal



Todo mundo já sabe que as ecobags vieram para ficar e, cada dia mais, as pessoas trocam os sacos plásticos por sacolas reaproveitáveis. Em Belo Horizonte está em vigor desde 18 de abril a lei que proíbe o comércio de fornecer sacolinhas descartáveis.

O problema é que muita gente reaproveita o saco do supermercado nas lixeiras de casa. Aí surge o dilema: o que pode ser usado para substituir as sacolinhas, já que os sacos de lixo vendidos no mercado também são feitos de plástico?

Se você é uma dessas pessoas, seus problemas acabaram! Nesse passo a passo você irá aprender a fazer um saquinho de jornal, feito a partir de uma dobradura de origami.

Segundo Martha Maria Lopes Pontes, dona da ideia, o processo é rápido e fácil, pode ser feito em apenas 20 segs e utiliza apenas jornal velho. O copinho pode ser feito com apena uma folha de jornal ou outro tipo de papel, mas a artesã aconselha usar mais de uma para deixá-lo mais resistente.

Confira o passo a passo:

1. Faça uma dobra para marcar, no sentido vertical, a metade da página da direita e dobre a beirada dessa página para dentro até a marca, e assim terá um quadrado;

2. Dobre a ponta inferior direita sobre a ponta superior esquerda, formando um triângulo;

3. Dobre a ponta inferior direita do triângulo até a lateral esquerda;

4. Vire a dobradura e, novamente, dobre a ponta da direita até a lateral esquerda;

5. Para fazer a boca do saquinho, pegue uma parte da ponta de cima do jornal e enfie para dentro da aba que você dobrou por último, fazendo-a desaparecer lá dentro;

6. Sobrará a ponta de cima que deve ser enfiada dentro da aba do outro lado, então vire a dobradura para o outro lado e repita a operação;

7. Abra a parte de cima e você verá o saquinho pronto!

8. Agora é só encaixar dentro do seu cesto de lixo e abandonar de vez o saco plástico.



Idéia retirada daqui, ô: ECODESENVOLVIMENTO

segunda-feira, 18 de abril de 2011

E vamos brincar?



Que tal aproveitar o recesso e feriado da Semana Santa pra ir pra fora de casa e fazer uma brincadeira divertida com seu filho?


Através dos jogos e brincadeiras podemos desenvolver nos pequenos habilidades e novas capacidades físicas, como o equilíbrio, o controle do corpo, a noção espacial e a coordenação motora, além de se trabalhar o lúdico, a imaginação e a criatividade.


Ao brincar com nossos filhos, podemos resgatar também a emoção destas brincadeiras...reviver a pressa em encontrar um local para se esconder na brincadeira de pique esconde; a concentração de se pular em um pé só na amarelinha, a agilidade em se esquivar da bola na queimada.


Revivendo estas emoções, damos sentido a estas brincadeiras, podendo passar para nossos filhos a importância do lúdico e da simplicidade em suas vidas.




E para servir de inspiração segue o link de uma cartilha da Folha chamada "Mapa do Brincar", com o registro e explicação de centenas de brincadeiras de todas as regiões do Brasil...Vale a pena conferir!!




sexta-feira, 15 de abril de 2011

Carta Aberta aos Pais e Mães


O presente, um dia foi uma criança. As crianças são o futuro.


Que futuro terão nossos filhos?


Aproveitamos o sentimento de indignação e tristeza que nos abalou nos últimos dias para convoca-los para uma mobilização pelo futuro das nossas crianças. A tragédia absurda ocorrida na escola em Realengo (Rio de Janeiro) é resultado de uma estrutura complexa que tem regido nossa vida em sociedade. O problema vai muito além de um sujeito qualquer decidir invadir uma escola e atirar em crianças. Armas não nascem em árvores. A coisa está feia: choramos por essas crianças, mas não podemos nos deixar abater pelo medo, nem nos submeter aos valores deturpados que têm regido nossa sociedade propiciando esse tipo de crime. Não vamos apenas chorar e reclamar: vamos assumir nossa responsabilidade, refletir, trocar ideias e compartilhar planos de ação por um futuro melhor. Então, mães e pais, como realizar uma revolução que seja capaz de mudar esses valores sociais inadequados? Vamos agir, fazer barulho, promover mudanças! Acreditamos na mudança a longo prazo. Precisamos começar a investir nas novas gerações: a esperança está na infância. Vamos fazer nossa parte: ensinar nossos filhos pra que façam a deles.

Se desejamos alcançar uma paz real no mundo, temos de começar pelas crianças. Gandhi

O que estamos fazendo com a infância de nossas crianças?

Com frequência pais e mães passam o dia longe dos filhos porque precisam trabalhar para manter a dinâmica do consumo desenfreado. Terceirizam os cuidados e a educação deles a pessoas cujos valores pessoais pensam conhecer e que não são os valores familiares. Acabamos dedicando pouco tempo de qualidade, quando eles mais precisam da convivência familiar. Assim, como é possível orientar, entender, detectar e reverter tanta influência externa a que estão expostos na nossa longa ausência? Estamos educando ou estamos nos enganando?

O que vemos hoje são crianças massacradas e hiperestimuladas a serem adultos competitivos desde a pré-escola. Estão constantemente expostos à padronização, competição, preconceito, discriminação, humilhação, bullying, violência, erotização precoce, consumo desenfreado, culto ao corpo, etc.

O estímulo ao consumo desenfreado é uma das maiores causas da insatisfação compulsiva de nossa sociedade e de tantos casos de depressão e episódios de violência. Daí o desejo de consumo ser a maior causa de crime entre jovens. O ter superou o ser. Isso porque a aparência é mais importante do que o caráter. Precisamos ensinar nossos filhos que a felicidade não está no que possuímos, mas no que somos. Afinal, somos o exemplo e eles repetem tudo o que fazemos e o modo como nos comportamos. E o que ensinamos a nossos filhos sobre o consumo? Como nos comportamos como consumidores? Onde levamos nossos filhos para passear com mais frequência? Em shoppings?

Quanto tempo nossos filhos passam na frente da TV? 10 desenhos por dia são 5 horas em frente à TV sentados, sem se movimentar, sem se exercitar, sendo bombardeados por mensagens nem sempre educativas e por publicidade mentirosa que incentiva o consumo desde cedo, inclusive de alimentos nada saudáveis. Mais tempo do que passam na escola ou mesmo conosco que somos seus pais!

Porque os brinquedos voltados para os meninos são geralmente incentivadores do comportamento violento como armas, guerras, monstros, luta? A masculinidade devia ser representada pela violência? Será que isso não contribui para a banalização da violência desde a infância? Quando o atirador entrou na escola com armas em punho, as crianças acharam que ele estava brincando.

Nós cidadãos precisamos apoiar ações em que acreditamos e cobrar do Estado sua implementação, como o controle de armas, segurança nas escolas, mudança na legislação penal, etc. Mas acima de qualquer coisa precisamos de pessoas melhores. Isso inclui educação formal e apoio emocional desde a infância. É hora de pensar nos filhos que queremos deixar para o mundo, para que eles possam começar a vida fazendo seu melhor. Criança precisa brincar para se desenvolver de forma sadia. É na brincadeira que elas se descobrem como indivíduos e aprendem a se relacionar com o mundo.

Nós pais precisamos dedicar mais tempo de convivência com nossos filhos e estar atentos aos sinais que mostram se estão indo bem ou não. Colocamos os filhos no mundo e somos responsáveis por eles! Eles precisam se sentir amados e amparados. Vamos orientá-los para que eles sejam médicos por amor não por status, que sejam políticos para melhorar a sociedade não por poder, funcionários públicos por competência e não pela estabilidade, juízes justos, advogados e jornalistas comprometidos com a verdade e a ética, enfim!

Precisamos cobrar mais responsabilidade das escolas que precisam se preocupar mais em educar de verdade e para um futuro de paz. Chega de escolas que tratam alunos como clientes.

Não temos mais tempo a perder. Ou todos nós, cedo ou tarde, faremos parte da estatística da violência. Convidamos todos a começar hoje. Sabemos que não é fácil. E alguma coisa nessa vida é? Vamos olhar com mais atenção para nossos filhos, vamos ser pais mais presentes, vamos cobrar mais da sociedade que nos ajude a preparar crianças melhores para um mundo melhor!

Nossa proposta aqui é de união e ação para promover uma verdadeira mudança social. A mudança do medo para o AMOR, do individualismo para a FRATERNIDADE e para a EMPATIA, da violência para a GENTILEZA e a PAZ.
Carta retirada do blog Trezentos
Imagem: Arquivo próprio

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Criança do 1º Setênio e a Pedagogia Waldorf


A Pedagogia Waldorf concebe o homem como uma unidade harmônica físico-anímico-espiritual e sobre esse princípio fundamenta toda a prática educativa.

A partir de uma visão antropológica, a Pedagogia Waldorf abrange todas as dimensões humanas, que estão em íntima relação com o mundo, explica e fundamenta o desenvolvimento dos seres humanos segundo princípios gerais evolutivos que compreendem etapas de sete anos, denominadas setênios.

Cada setênio apresenta momentos claramente diferenciáveis, nos quais surgem ou despertam interesses, perguntas latentes e necessidades concretas.

No primeiro setênio (zero a sete anos), a criança emprega todas as suas energias para o desenvolvimento de seu físico. Ela manifesta toda sua volição através de intensa atividade corporal. Essa atividade, que desencadeia a formação do físico, metamorfoseia-se em maior ou menor capacidade de atuar com liberdade na vida adulta, no âmbito cultural-intelectual.

Nesta fase a criança tem uma grande abertura em relação ao mundo. Ela acolhe sem resistência anímica tudo o que lhe advém do ambiente em redor, entregando-se ao mundo com CONFIANÇA ilimitada. Vive num estado de ingenuidade paradisíaca, num mundo em que o bem e o mal se confundem indistintamente.

Na criança, todos os órgãos de percepção sensória estão abertos e, a partir de uma intensa atividade em seu interior, ela responde com a repetição dos estímulos vindos do ambiente exterior, a IMITAÇÃO. Essa imitação é a grande força que a criança de primeiro setênio tem disponível para a aprendizagem, inclusive a do falar, do fazer, do adequado ou impróprio no comportamento humano. E é por meio da imitação mais sutil que ela gera, ainda sem consciência, o fundamento da sua moralidade futura.

Nesse período a criança tem muitos amigos. Está aberta a novos contatos, porém as amizades ainda são bastante superficiais, não atingindo efetivamente o outro; são muito mais destinadas a trazer o outro para o seu próprio mundo e brincar.

Durante esse primeiro setênio, a relação mais importante com o mundo exterior transcorre de fora para dentro. Todavia, as experiências adquiridas ainda não são centralizadas no eu, ou seja, no centro de sua consciência.

A Pedagogia Waldorf transcende a mera transmissão de conhecimento e se converte em sustentação do desenvolvimento integral do educando, cuidando que tudo o que se faça tenha como meta a transformação de sua vontade e o cultivo de sua sensibilidade e intelecto. Desse modo, procura-se estabelecer uma relação harmônica entre desenvolvimento e aprendizagem, fazendo confluir a dinâmica interna da pessoa com a ação pedagógica direta, ou seja, integrando os processos de desenvolvimento individual com a aprendizagem da experiência humana culturalmente organizada.

A Pedagogia Waldorf dá especial atenção para que no ensino se encontrem entretecidos pontos de vista científicos e estético-artísticos com os aspectos relativos ao respeito profundo e à admiração ante o mundo.

Aprofundando-se nos estudos antropológicos e ampliando-os, Rudolf Steiner compreendeu que os fundamentos para a realização dos ideais humanos de convivência moral-social baseados na liberdade com responsabilidade, fraternidade, respeito mútuo, consciência plena de igualdade de direitos e deveres, desenvolvem-se na criança e no jovem através do cultivo da admiração e da veneração, os quais só podem se dar através de uma religiosidade livre e verdadeira.

Respeitando todas as religiões, foi no cristianismo que Rudolf Steiner encontrou caminho para essa religiosidade.Assim, as Escolas Waldorf têm sua pedagogia permeada por valores cristãos livres de qualquer instituição confessional.

Na Pedagogia Waldorf, é dada uma importância fundamental à educação no primeiro setênio por se tratar da fase da vida na qual é desenvolvida a organização do corpo físico, o veículo que o indivíduo irá usar como meio e instrumento para a concretização de sua missão na Terra. A educação visa proporcionar um corpo são para uma mente sã.

Fatos importantes para o desenvolvimento da organização do corpo físico é o meio ambiente de onde vêm os estímulos para a formação dos órgãos sensoriais e o ambiente anímico-espiritual (psicológico) que influenciará mais a formação dos órgãos internos. A saúde do indivíduo para toda sua vida depende, em grande parte, das pré-disposições implantadas nessa fase, em que todas as forças vitais estão empenhadas na formação do organismo corpóreo.

Até aproximadamente os três anos de idade, o cérebro, centro nervoso, está em franco desenvolvimento, cheio de vitalidade, sendo moldado conforme os estímulos vindos do ambiente e pelas experiências corporais que fazem uso da motricidade. As experiências vividas inicialmente em nível corpóreo ficarão gravadas no cérebro e poderão ser usadas posteriormente como base para o pensar. A criança que pôde desenvolver corretamente sua habilidade corpórea natural tem uma boa pré-disposição para um pensar vivo e ativo, posteriormente.

Durante seu desenvolvimento, nos três primeiros anos de vida, quando por meio de um grande empenho, a criança conquista o andar ereto, o falar e inicia o processo de pensar, é a fase do aprendizado mais importante da vida. Trata-se das três capacidades intrínsecas do homem que o distinguem do animal.

O acompanhamento correto desse processo é a base para a elaboração educacional para berçários e maternais. Quanto menos interferências houver nesses processos, acelerando-os ou deixando de criar condições propícias, tanto melhor para a criança.

Outro momento importante entre os dois ou três anos de idade, é quando a criança diz “eu” para si. Antes ela se sentia uma com o mundo, não se distinguia dele; agora, ela se vivencia separada dele, deparando-se inclusive com o “tu” e com as outras pessoas. Antes era egocêntrica, egoísta por natureza; agora, ela vai despertando para o convívio social. A teimosia típica dessa idade deve ser compreendida como uma medição de forças para o conhecimento das capacidades do eu próprio.

A maturidade da criança para ingressar no jardim da infância, onde vai ter que aprender a conviver socialmente, mostra-se à medida que ela sabe lidar com o “tu”, em torno dos três a quatro anos de idade. Também é o momento em que as primeiras características do pensar se ampliam, mostrando uma grande mobilidade de pensamentos que podem se unir arbitrariamente, nem sempre fieis à realidade exterior: chama-se fantasia infantil. Muda todo o mundo de brincar da criança, que é influenciado intensamente pela imitação e pela fantasia. No ambiente corpóreo se apresenta uma crescente capacidade no uso dos braços e das mãos como também um domínio no uso da respiração.

Ao redor dos cinco anos de idade, ocorre uma nova mudança de comportamento da criança. As brincadeiras se tornam mais ordenadas, numa imitação fiel da realidade vivida pela criança. As perguntas muitas vezes têm um cunho “filosófico” e também aparece a capacidade de compreender o ontem, o hoje e o amanhã, significando um novo passo no despertar do pensamento. No âmbito corpóreo, as crianças de cinco e seis anos mostram maior habilidade no uso de pernas e pés. As habilidades corpóreas vão se desenvolvendo da cabeça aos pés, repetindo o processo formativo do feto e o processo do nascimento.

No final do primeiro setênio, a criança já deve ter colocado seus pés firmemente no chão, quando ela encarnou na sua própria corporalidade e agora está pronta para o aprendizado no Ensino Fundamental.

Como a criança de primeiro setênio ainda não desenvolveu, por natureza, sua capacidade de raciocínio, o educador não pode apelar para uma compreensão. Ele terá que apelar a um elemento nato, ou seja, a imitação. A criança aprende a se adequar aos apelos do mundo por meio da imitação das pessoas e das ocorrências do seu redor. O educador é um exemplo que deve ser digno de ser imitado. Ele faz parte do meio ambiente formador da criança. Na educação infantil, o educador deve apelar para a imitação e para a fantasia, ajudando a criança de primeiro setênio a adaptar-se à realidade do mundo.

No jardim de infância são agrupadas crianças de quatro a seis anos, porque o ambiente e as atividades desenvolvidas atendem a todas as idades, uma vez que a proposta da pedagogia Waldorf para o primeiro setênio é criar um ambiente propício para a formação, e não uma pré-escola com informações ou ensino formal. O jardim de infância, como o maternal, é o prolongamento do lar e não uma “ante-sala” do ensino escolar. Assim como numa família onde irmãos de idades diferentes educam-se mutuamente, também as crianças de jardim de infância, em grupos de idades mistas, têm essa mesma oportunidade.

No primeiro setênio, o desenvolvimento está centrado principalmente na organização corpórea e sendo influenciado intensamente pelos estímulos do ambiente no qual a criança vive, a atenção que o educador deve dar à formação dos órgãos sensoriais é indiscutível. São os sentidos que trazem as mensagens do próprio corpo e ajudam a criança a fazer uso dessa corporalidade para ir se adaptando ao mundo. O educador Waldorf dá muita importância à qualidade dos fenômenos e objetos que justamente vão influenciar a formação e o funcionamento dos órgãos dos sentidos.

Outro aspecto fundamental é o ritmo. Todo processo vivo de aprendizagem deverá necessariamente respeitar e fomentar um ritmo adequado.

A pedagogia Waldorf considera fundamental a alternância sadia e equilibrada entre concentração e expansão, entre atividade intelectual e prática, entre esforço e descanso, entre recordação e esquecimento.

Assim se planeja o mais cuidadosamente possível, a partir desse ponto de vista, tanto na prática educativa anual, mensal, semanal e diária, como também cada uma das horas de aula, a fim de conseguir o ritmo adequado às fases de compreensão, assimilação e produção da aprendizagem. Isso requer estruturas flexíveis e móveis que integrem tempos, durações e ritmos multiformes, ou seja, um novo significado do tempo. Em educação, isso exige uma organização dinâmica que se adapte aos conteúdos, às práticas pedagógicas e ao aluno.

Ligadas ao ritmo, são comemoradas as festas do ano. A criança vivencia o ciclo anual de uma forma direta, pois o perfaz com todo seu ser, como se fizesse parte da natureza. Neste contexto, as festas anuais podem ser compreendidas mais conscientemente, cada uma de acordo com as suas características. Nas escolas Waldorf, as festas do ano seguem o calendário cristão. Delas são extraídos os verdadeiros conteúdos e transformados para as crianças em imagens retiradas da natureza.

Também é comemorado o aniversário de cada criança, e neste dia, além da festa, todo o ritmo é voltado para esse evento.

No ritmo de cada dia, o brincar ocupa um lugar de extrema importância. O valor do brincar para o desenvolvimento sadio da criança é cientificamente comprovado e é a preocupação de muitos educadores.

Na pedagogia Waldorf ele tem valor preponderante, principalmente na educação da criança de primeiro setênio.

O brincar livre, não dirigido ou proposto, é visto como o maior e o melhor estimulador para um desenvolvimento que esteja de acordo com a maturidade etária e as capacidades individuais de cada criança. O impulso natural interior da criança para aprender a se tornar humana, para adaptar-se e se adequar ao ambiente, encontra evasão no brincar livre. Ela procura a atividade lúdica que melhor corresponde às suas necessidades evolutivas momentâneas, seguindo inconscientemente e instintivamente os estímulos provenientes de uma sabedoria corpórea.

Faz parte da natureza da criança querer sempre se superar, tornando-se cada vez mais capaz no domínio de sua própria corporalidade e na interação com o mundo.

Os educadores têm a tarefa de criar o ambiente e as condições para o processo auto-educativo da criança no brincar livre.

Sua primeira preocupação é criar um ambiente propício para o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos, que irão se formar de acordo com as qualidades dos estímulos.

Não é o excesso de estímulos que irá proporcionar uma organização sensória capaz de perceber as sutilezas do mundo, justamente aquelas que mais enriquecem a vida interior. O excesso de impressões e estímulos não permite que a criança tenha tempo para se ligar ao percebido; ela irá desenvolver o hábito para a superficialidade e terá dificuldades para a concentração. Cada objeto em sala de aula deve ter seu valor para que as crianças possam criar vínculo com os mesmos. Estas são qualidades importantes a serem desenvolvidas em nossa época em que quase tudo é descartável e, portanto, desprezível.

Os objetos e os brinquedos devem ser de materiais naturais, duradouros e bonitos esteticamente, já que irão influenciar a formação dos órgãos dos sentidos e, indiretamente, despertar o amor e o respeito pela natureza. Os objetos com os quais as crianças brincam não devem ter um acabamento pormenorizado, réplicas fiéis dos objetos usados pelos adultos. Eles devem despertar a fantasia infantil que lhes dará o “acabamento personalizado”, de acordo com as necessidades solicitadas pela imaginação.

Além dos brinquedos estruturados usuais como bonecas de pano, carros de madeira, etc, dá-se muita importância, na Pedagogia Waldorf, ao oferecimento de objetos rústicos naturais, tais como a natureza oferece, como pinhas, sementes de vários tamanhos, tocos de madeira de vários tamanhos e formas, conchas, pedras, raízes e tudo que possa estimular a fantasia da criança, que logo encontrará uma “utilidade” para eles.Também são oferecidos instrumentos musicais bem afinados e de percussão como metalofone, xilofone, triângulos, sinos, etc.

Dentre as atividades desenvolvidas no jardim de infância Waldorf, cabe destacar alguns pontos que demonstram, na prática, a proposta pedagógica em foco. O tema utilizado nas rodas rítmicas (cirandas e dramatizações) é inspirado na natureza, na vida. A professora vai pesquisar os movimentos que expressam coerentemente cada imagem, cada ação que ela quer trazer às crianças.

Com relação ao desenho, devemos lembrar que a criança do primeiro setênio não deve aprender a desenhar de forma dirigida. Devemos incentivar o desenho livre como uma atividade diária, sendo que o lápis ideal para ser usado é o lápis de cera ou outros que tenham a superfície corante bem larga.

O mesmo se dá no que diz respeito à música, pois cabe aos educadores discernir que características a música levada à criança deve ter, pois essa música deve ir de encontro ao estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra.

E assim, nas demais atividades propostas, também procura-se atender as reais necessidades físicas, psíquicas e espirituais de cada criança, proporcionando um ambiente adequado ao grupo como um todo e a cada uma em sua individualidade.

Na pedagogia Waldorf não se pretende contribuir para a aceleração do desenvolvimento da criança. Temos hoje na sociedade, de modo geral, a tendência a estimular o aprendizado causando uma precocidade infantil. Uma das questões fundamentais da educação é como lidar com essa aceleração do desenvolvimento da criança. Será que, de fato, a solução consiste na antecipação dos conteúdos de ensino? Ou as crianças estão esperando outra solução para suas necessidades?
Na pedagogia Waldorf não se vê a aceleração ou a antecipação como solução. A solução está na real compreensão fisiológica e psicológica do desenvolvimento da criança, e a partir dessa compreensão profunda, criar um ambiente de situações propícias para o aprendizado das crianças de uma determinada faixa etária. A aceleração e o adiantamento do ensino formal, já no primeiro setênio, não permitem o amadurecimento das vivências e experiências. Esse procedimento favorece o acúmulo de informações e ajuda a criar o hábito da superficialidade, ao exigir sempre mais novidades, mas sem o aprofundamento de nenhuma.

A criança passa por fases de desenvolvimento e cada uma delas é um passo no despertar da consciência. Na pedagogia Waldorf, procura-se propiciar que a criança experimente amplamente as possibilidades que seu processo de amadurecimento lhe proporciona. A criança deve usufruir com muita alegria a repetição de cada nova conquista no seu caminho de adaptação e conhecimento do mundo. Entende-se que a qualidade sempre tem mais valor do que a quantidade. Cabe ao educador Waldorf. que deve buscar uma profunda compreensão antropológica e pedagógica do processo evolutivo do ser humano, criar o ambiente que atenda às necessidades da criança.

Na pedagogia Waldorf, o papel do educador infantil é visto como de extrema importância e até mesmo decisivo para toda a vida do indivíduo. A primeira fase da vida é o fundamento, o primeiro degrau sobre o qual se edifica todo o desenvolvimento futuro. Isto requer uma ampla formação do educador infantil em todos os âmbitos.

Como a educação da criança do primeiro setênio apela essencialmente para a imitação, o educador, como exemplo, deve ter a capacidade para uma autêntica auto-crítica e força de vontade para a auto-educação. O educador tem de ter uma boa capacidade de observação tanto para observar o processo evolutivo das crianças, como também para observar as manifestações da natureza. Sua função é justamente a de ajudar as crianças a se familiarizarem e se adaptarem às condições da vida na Terra, e ajudá-las a conhecer o mundo no qual irão atuar futuramente. Com a incapacidade da criança de compreender racionalmente os fenômenos do mundo, o educador terá que usar a linguagem compreendida nessa faixa etária: a linguagem dos gestos, dos movimentos vivenciados na natureza.

A linguagem falada ou cantada é mais um acompanhamento dos gestos que caracterizam a natureza, e proporciona maior vivência e aprendizado da própria língua, do vocabulário e a imitação correta dos fonemas. O educador deve ter uma voz agradável para falar e afinada para cantar. Também é importante ter uma dicção clara e bem formulada para o contato constante com as crianças e para contar-lhes histórias e contos de fadas. O educador deve ter bom senso rítmico e conhecer a atuação dos ritmos falados, cantados e musicais sobre a índole da criança.
Apesar de as crianças de jardim e infância não fazerem tantos trabalhos manuais dirigidos, é importante que o educador seja habilidoso manual e corporeamente para todos os afazeres do dia a dia em sala de aula, pois estes serão imitados pelas crianças em seu brincar livre.

Dentre esses afazeres, consta o preparo do lanche de cada dia, que é feito pela professora na presença das crianças e com a colaboração das mais velhas e/ou interessadas em participar deste momento que, na Pedagogia Waldorf, é visto como uma importante atividade.

Procura-se sempre preparar e oferecer alimentos naturais, selecionados de acordo com orientações antroposóficas a respeito da alimentação das crianças. Produtos como frutas, legumes, cereais integrais, mel (evita-se o uso do açúcar branco) entre outros fazem parte do cardápio, que também tem um ritmo que se repete a cada semana. Neste aspecto o educador deveria refletir e, se preciso for, rever sua própria alimentação, pois a criança assimila mais e melhor aquilo que sente ser verdadeiro na vida da professora.

Um bom educador estará sempre preocupado com sua auto-educação. O verdadeiro interesse e preocupação do adulto em melhor conhecer e servir cada criança, fará com que desenvolva a capacidade interior de tecer um elo de investigação invisível com cada criança do seu grupo.

Também faz parte da auto-educação o constante estudo de aprofundamento das bases da Pedagogia Waldorf, assim como na Antroposofia, filosofia que a norteia. Além do estudo individual, o educador procura participar de grupos de estudos, encontros regionais de jardineiras (assim são chamadas as professoras do jardim de infância Waldorf) e congressos específicos que tratam da faixa etária em questão, tanto no Brasil como no exterior.

Os educadores devem trabalhar em conjunto com as famílias, pois as escolas Waldorf têm como meta básica fazer com que os pais acompanhem de perto o desenvolvimento de seus filhos. Escola e família trabalham conscientemente para a formação harmoniosa das crianças.

Para isso, desde o momento da matrícula, a escola deverá deixar bem claro aos pais qual é a proposta pedagógica. Os pais, então, de posse desse material, poderão refletir e tomar uma decisão consciente sobre a futura educação de seus filhos, participando assim, ativamente, desse processo.

Os pais serão chamados para conversas particulares sobre o andamento de seus filhos na escola e, ainda em respeito ao espírito de convivência entre a escola e a família, os professores deverão, pelo menos uma vez por ano, visitar seus alunos em suas casas.

A escola promoverá também passeios visando o entrosamento e a convivência social harmônica. Festas escolares, normalmente relacionadas às épocas do ano, devem ser prestigiadas pelos pais, assim como o evento do Bazar.

O Bazar é fruto da organização e trabalho efetivo realizado, ao longo do ano, pelas famílias. Trabalhos de marcenaria, confecção de brinquedos, encadernação de livros, artesanato e pintura são executados pelos pais e expostos para toda a comunidade, revelando às nossas crianças a grande potencialidade humana.
Grupos de estudos sobre a Pedagogia Waldorf e desenvolvimento infantil serão oferecidos aos pais para que escola e família caminhem juntas no processo de educação da criança.

A pedagogia Waldorf estuda cada criança, individualmente, buscando suprir suas necessidades. Trabalha com o grupo de classe, fornecendo o alimento anímico à sua etapa de desenvolvimento e ainda orienta os pais para que participem ativamente do desenvolvimento e formação de seus filhos, construindo uma comunidade viva, forte e muito mais feliz.

Texto retirado da "Proposta Pedagógica das Escolas Waldorf"

Imagem: Arquivo Próprio