terça-feira, 31 de maio de 2011

A Senhora dos Livros








A minha família e eu vivemos num sítio muito alto, pertinho do céu. A nossa casa fica situada num local tão alto que quase nunca vemos ninguém, a não ser falcões a planar e animais a esconder-se por entre as árvores.

Chamo-me Cal e não sou nem o mais velho nem o mais novo dos irmãos. Mas, como sou o rapaz mais velho, ajudo o meu pai a lavrar e a ir buscar as ovelhas quando, às vezes, elas se escapam. Também me acontece trazer a vaca para casa ao pôr-do-sol, e ainda bem que o faço. É que a minha irmã Lark passa o dia todo a ler.

O meu pai diz sempre que nunca se viu uma rapariga tão super-leitora... Cá comigo não é assim. Não nasci para ficar sentado e quieto a olhar para quatro garatujas. E não acho graça nenhuma a que a Lark se arme em professora, porque a única escola que existe fica a quilómetros daqui e ela dificilmente lá chegará. Por isso é que ela quer ensinar-nos. Só que, a mim, a escola não me interessa!

Sou sempre o primeiro a ouvir o ruído dos cascos e a ver a égua alazã da cor do barro. Sou o primeiro a dar-se conta de que o ginete não é um homem, mas uma senhora com calças de montar e cabeça bem erguida. É claro que recebemos a forasteira de braços abertos, porque pessoa mais simpática não há. Depois de tomar chá, põe os alforges em cima da mesa e até parece ouro o que tira de lá de dentro. Os olhos da Lark põem-se a brilhar como moedas e a minha irmã não consegue ter as mãos quietas, como se quisesse apropriar-se de um tesouro.

Na realidade, o que a senhora traz não é tesouro nenhum, pelo menos a meu ver. São livros! Um monte de livros que ela, sozinha, carregou pela encosta acima. Um dia inteiro a cavalo para nada! É o que eu digo! Porque, se ela os quisesse vender, como faz o caldeireiro, que anda por aí com panelas, sertãs e outras coisas, veria logo que nós nem um centavo sequer temos para gastar. Muito menos em livros velhos e inúteis!

O meu pai põe-se a fitar a Lark e pigarreia. Então propõe à Senhora dos livros:

— Fazemos um contrato. Em troca de um livro dou-lhe uma saca de framboesas.

Aperto bem as mãos atrás das costas. Quero falar, mas não me atrevo. As framboesas, fui eu que as apanhei… Para fazer uma tarte, não para trocar por um livro! Quando vejo a senhora recusar, até pasmo. Não aceita uma saca de framboesas, nem um molho de legumes, nem nada do que o meu pai, em troca, lhe quer oferecer. Os livros não custam dinheiro; são de graça, como o ar. Ainda por cima, dentro de quinze dias, voltará para os trocar por outros! Cá para mim, tanto se me dá que a Senhora traga livros ou que não encontre o caminho até nossa casa. O que me espanta é que, mesmo que chova a cântaros, haja neve ou faça frio, ela volte sempre!

Certo dia de manhã, a terra acordou mais branca do que a barba do nosso avô. O vento uivava como lince em plena escuridão e apertamo-nos todos diante da lareira, pois, num dia desses, ninguém faz nada. Com um tempo assim, até os animaizinhos da floresta se deixam ficar bem aconchegados. De repente, ouviram-se umas pancadinhas na janela. Era a Senhora dos livros, abrigada até à ponta dos cabelos! Fez a troca através da porta entreaberta, para não apanharmos frio. E quando o meu pai lhe pediu que dormisse em nossa casa, não se deixou convencer:

— A égua leva-me embora — respondeu.

Fiquei de boca aberta a vê-la afastar-se. Pensei que era uma pessoa muito corajosa e tive vontade de saber por que é que a Senhora dos livros se arriscava a apanhar uma constipação ou coisa bem pior. Escolhi um livro com letras e desenhos e pedi à minha irmã Lark:

— Ensina-me o que está aqui, por favor.

A minha irmã não se riu nem troçou de mim. Arranjou um lugar aconchegado e, em voz baixa, pôs-se a ler. O meu pai costuma dizer que nos sinais da natureza está escrito se o Inverno vai durar muito ou pouco. Este ano, todos os sinais anunciaram neve bem abundante e um frio tremendo. Mas, embora todos os dias ficássemos em casa apertados como sardinhas em lata, não me importei nada. Pela primeira vez. Só quase na Primavera é que a Senhora dos livros pôde voltar a visitar-nos. A minha mãe ofereceu-lhe um presente, a única coisa de valor que lhe podia dar: a sua receita de tarte de framboesa, a melhor do mundo.

— Não é muito, bem sei, para o grande esforço que faz — disse a minha mãe.

Em seguida, baixou a voz e acrescentou com orgulho:

— E por ter conseguido arranjar dois leitores onde apenas havia um!

Baixei a cabeça e esperei pelo fim da visita para comentar:

— Também gostaria de ter alguma coisa para lhe oferecer.

A Senhora dos livros virou-se e fitou-me com os seus grandes olhos negros:

— Vem cá, Cal — disse, com muita doçura.

Quando me aproximei dela, pediu:

— Lê-me alguma coisa.

Abri o livro que tinha entre mãos, mesmo acabadinho de chegar. Dantes, eu pensava que eram quatro garatujas, mas agora já sei ver o que contém. E li um pouco em voz alta.

— Isto é que é a minha prenda! — disse a Senhora dos livros.


NOTA DA AUTORA

Este livro é inspirado numa história real, e relata o trabalho incansável das bibliotecárias a cavalo, conhecidas como «as Senhoras dos livros» entre os Apaches do Kentucky.


O Projecto da Biblioteca a Cavalo foi criado nos anos trinta do século XX, no contexto do New Deal do Presidente Franklin D. Roosevelt, com a finalidade de levar os livros às zonas isoladas onde havia poucas escolas e nenhuma biblioteca. No alto das montanhas do Kentucky, os caminhos eram amiúde simples leitos de riachos ou carreiros acidentados. De cavalo ou de mula, as bibliotecárias percorriam a mesma rota árdua, cada duas semanas, carregadas de livros, independentemente de fazer bom ou mau tempo. Para demonstrar a sua gratidão por algo que não custava dinheiro, “como o ar”, as famílias podiam dar-lhes algo do pouco que possuíam: legumes das suas hortas, flores ou frutos silvestres, ou até apreciadas receitas transmitidas de geração em geração.


Embora também houvesse alguns homens na Biblioteca a Cavalo, geralmente eram as mulheres que o faziam, numa época em que a maioria das pessoas achava que o lugar da mulher era em casa. As bibliotecárias a cavalo revelavam uma resistência e uma entrega extraordinárias. Ganhavam muito pouco, mas sentiam-se orgulhosas do seu trabalho: levar o mundo exterior ao povo apache e, em muitas ocasiões, converter num leitor quem antes nunca tinha achado nenhuma utilidade em “quatro garatujas”.


No Kentucky, os leitos dos riachos e os carreiros acabaram por se transformar em estradas. Os cavalos e as mulas deram lugar a carros-biblioteca, que são as bibliotecas ambulantes nos dias de hoje. Dedicados à sua tarefa, bibliotecárias e bibliotecários continuam a levar livros a quem deles necessita…



Heather Henson
La señora de los libros
Barcelona, Editorial Juventud, 2010
(Tradução e adaptação)


O poema acima faz parte do acervo do Projeto "Clube de Contadores de Histórias", maiores informações pelo email es@contadoresdehistorias.com

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

E a Feirinha da Escola Miguel Arcanjo...

Mudou de dia...agora ela acontece toda segunda-feira!

Os produtos vendidos na feirinha vem diretamente de um sítio em Ouro Preto, e são cultivados livres de agrotóxicos.

A escola aceita encomendas pelo telefone, e deixa os produtos preparados.

Pra quem não conhece a Miguel Arcanjo Escola Waldorf, fica localizada no Bairro Braúnas, na região da Pampulha. É uma iniciativa nova que merece todo incentivo da comunidade antroposófica.

Olha o site deles aqui, ô:

Vale a pena conhecer!!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dicas Pedagógicas: A Importância dos Pequenos Rituais para as Crianças




Visualize a cena: Está chegando aquele horário da noite em que os pais assistem o telejornal enquanto o filho pequeno brinca contente na sala. É hora da criança jantar, ou tomar banho, ou escovar os dentes e ir para a cama. Os pais já sabem, o sossego acabou, é o momento do atrito diário, já que a criança não quer abandonar a brincadeira e fazer o que deve!


Na maioria das vezes essas situações conflitivas acontecem porque os pais não compreendem que esses momentos de mudança ou transição de uma atividade para outra trazem uma grande insegurança para a criança, já que ela está mergulhada no momento presente e ainda não aprendeu a sair dele tão rapidamente como os adultos.

A chave para essas situações são os pequenos rituais, que devem ser entendidos como atos que se repetem sempre da mesma forma. Os rituais devem ser realizados com pequenas músicas, cantigas ou frases rimadas que os pais utilizam em cada situação e podem inclusive criá-los com simplicidade. Com isso teremos a música de guardar os brinquedos, o sininho que indica o jantar, o versinho para escovar os dentes, etc.

Os pequenos rituais deixam as crianças seguras, sinalizam o final de uma atividade e o início de outra, e como mostram alguns estudos, preparam até mesmo o organismo da criança para receber os alimentos de forma adequada.


Além disso, aplicando um conjuntos de pequenos rituais, os pais irão aos poucos formar a rotina diária da criança, um dos mais importantes elementos para a educação infantil e a solução para uma relação muito mais harmoniosa entre pais e filhos. Essa é nossa Dica da vez, aproveite!




Exemplo de músicas:



" Tá na hora, de arrumar, cada coisa em seu lugar..."


"Cai a água na biquinha, faz espuma com sabão, pra comer o meu lanchinho (ou jantar, ou almoço), vou lavar a minha mão."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Como Falar Com Crianças




“Quanto menor é a criança, menos ela obedece ao adulto. Podemos dizer mil vezes a uma criança: “Faça isto, fique quieta, faça aquilo”, e é como se nada tivéssemos dito. A criança pequena não age porque nós mandamos, porque quer ser uma menina “boazinha”, mas de forma totalmente impulsiva, inconsciente. Conforme as forças formativas estão trabalhando em seu interior, num movimento rítmico, a criança age para fora, ora pulando, ora deitando no chão, ora juntando pedrinhas no bolso e, na mesma hora já despejando tudo no chão. “Não faça isso, filhinha!” “Pare de pular, Joãozinho!” Os adultos gritam, muitas vezes irritados com essa atividade constante e com sua impotência em comandar os pequeninos como querem. O fato é que as crianças não tem capacidade de compreender o porquê do permitido e do proibido.

Mas, como é que nós podemos trazer ordem a esse caos? Que podemos fazer para que as crianças arrumem seus brinquedos, ou façam uma roda, ou entrem em casa depois de brincar lá fora? A palavra mágica é “imitação”. Nada podemos conseguir com as crianças pequenas, principalmente com as menores de quatro anos, senão dando o exemplo, fazendo antes para que a criança possa nos imitar. Se eu pegar um pauzinho e colocá-lo na cesta, a criança que está ao meu lado vai imitar este gesto imediatamente. Se eu ainda acompanhar esses gestos com músicas ou versos rítmicos, então a criança vai imitar-me com mais prazer. ”

“Com as crianças acima de três ou quatro anos, já podemos conversar de maneira diferente. Uma pequena parte daquela força formativa, que permeava por inteiro o corpo da criança antes dos três anos, libertou-se do físico e vive agora em sua alma, como fantasia infantil.

Nessa idade, de três a cinco anos, a criança brinca realmente, mas sem persistir muito tempo na mesma brincadeira. Seu brincar é leve, dançando, transformando tudo. Um pauzinho pode ser uma boneca que ela abraça carinhosamente; logo depois, já joga no chão porque viu outra coisa mais interessante: uma casca de coco que lhe serve de chapéu; ela é soldado e anda contando, marchando pela sala. Quando tira o coco da cabeça, ela acha pedrinhas que põe em sua panelinha, para fazer comida para seus filhinhos, e assim por diante.

A fantasia da criança não conhece limites, pinta um quadro atrás do outro, conta uma história atrás da outra. Se quisermos conversar com uma criança desta idade, temos de entrar no seu mundo movimentado. E isso às vezes é muito difícil, pois nossa cabeça já está dura, não temos idéias. Perto da fantasia das crianças, nossas idéias parecem uma pedra cinzenta ao lado de uma borboleta. Mas, se quisermos trabalhar com crianças dessa idade, temos de pôr nossa cabeça em movimento, temos de desenvolver nossa fantasia. Os melhores professores para isso são as próprias crianças.

Por exemplo: um grupo de crianças montou uma gruta no meio da floresta, com galhos de árvores e pedras. No meio da floresta, as crianças puseram muitos bichinhos de madeira, e na gruta, esconderam os anões. Chegou a hora de arrumar. Então, em vez de dizermos: “Crianças, vamos arrumar, esta na hora”, vamos falar assim: “Você, Pedro, é o pastor que leva todos os animais para o estábulo. Já está de noite, eles precisam ir embora para descansar. E os anões já trabalharam muito dentro da montanha, vamos levá-los para sua casa. Agora, temos que chamar um lenhador. Você, José, quer ser o lenhador que põe toda essa madeira no seu caminhão?” E assim, sem interromper a brincadeira das crianças, podemos levá-las a fazer aquilo que precisa ser feito para seguir o ritmo do dia, neste caso, arrumar. ”

Outra fonte de imagens são os contos de fada: eles não descrevem acontecimentos reais, mas são imagens que espelham o que se passa dentro da alma humana. O príncipe e a princesa, o lenhador, a madrasta, o caçador, o soldado são imagens para qualidades de nossa alma. Todas as pessoas tem dentro de si uma princesa, e todos conhecem também o dragão, aquela força escura, explosiva, descontrolada, inconsciente, que ás vezes ameaça devorar a princesa, nosso ideal mais puro, mais íntimo. Também conhecemos o que significa perder-se na floresta e não achar o caminho de casa. As crianças compreendem estas imagens de uma forma direta. Elas vivem em imagens. Podemos, então, dizer para um menino que chuta, bate, esperneia descontroladamente: “Pedro, segure as rédeas, seu cavalo está disparando. Você precisa aprender a ser um bom cavaleiro”. Esta imagem vai tocá-lo muito mais profundamente do que se eu disser simplesmente: “Pare com isto! Bater é feio!” ”

Texto retirado do livro: Criança Querida de Renate Keller Ignácio

Imagem: Da Internet

quarta-feira, 18 de maio de 2011

E tem feirinha na São Miguel Arcanjo!!













Olá queridos amigos,

Não percam a feirinha de orgânicos, pães, doces e artesanatos da escola Miguel Arcanjo!!! Esta feira acontece todas as quintas, de 11h30 à 12h45!!

E veja que facilidade: encomende suas compras via e-mail e as meninas do Miguel Arcanjo separam seu pedido para que você apenas busque-o na Escola!

Vejam as delícias desta semana, dia 19 de maio, quinta-feira:

Diversos:
· Artesanato
· Ovos
· Feijão preto e carioca
· Mel
· Pão integral
· Alfajor caseiro (doce argentino)



Frutas:
· Laranja Bahia e Serra D'água
· Mexerica
· Caqui

Legumes, verduras e raízes:
· Chuchu
· Couve
· Alface
· Acelga
· Taioba
· Rúcula
· Escarola
· Mandioca

Ervas e temperos:
· Cebolinha
· Salsinha
· Hortelã
· Manjericão
· Alecrim

Das 11h30 às 12h45
Tragam sua sacola!!

Mais informações no blog: http://www.miguelarcanjoescolawaldorf.blogspot.com/

terça-feira, 17 de maio de 2011

Bazar de Outono no Ninho Jardim Waldorf




Nós, do Lume, estaremos lá prestigiando o Ninho...Aguardamos a todos!!






Quino, desiludido com o século

Quino, o cartunista argentino autor da Mafalda, desiludido com o rumo deste século no que diz respeito a valores e educação, deixou impresso no cartoon o seu sentimento:

















A genialidade do artista faz uma das melhores críticas sobre a criação de filhos (e educação) nos tempos atuais.

Recebido por email da Yolanda, mãe de aluno do Lume

segunda-feira, 9 de maio de 2011

As Mãos Dela...

As Mãos Dela

Mãe tem as mãos tão jeitosas
Que fazem coisas gostosas
Para as crianças gulosas!

Mãe tem suaves dedinhos
que afagam com mil carinhos
A cabeça dos filhinhos!

Mãe tem mãos pacientes
Que cuidam tão docemente
Das criancinhas doentes...

Mãe tem as mãos bem pesadas
Quando descem em palmadas
Nas crianças malcriadas!

Mãe tem as mãos mansas e quentes
Que acalmam suavemente
Toda tristeza da gente...

Mãe tem as mãos feiticeiras
Que inventam mil brincadeiras
Para as crianças arteiras!

Mãe tem as mãos sempre postas
Pedindo a Deus que proteja
O filho onde quer que esteja.


Nós, do Lume Jardim de Infância, desejamos muitas felicidades às mamães, não só no seu dia, mas em todos os que virão!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

E a Oficina de Bonecas Waldorf...

Continua em pleno vapor!!




Após o processo de cardar a lã de carneiro, surge a primeira parte do corpinho das nossas bonecas...Alguêm adivinha o que é?




São as cabecinhas ficando prontas!!


E em meio a agulhas, linhas, tesouras e cabeças, as participantes trocam experiências e causos, regados a chazinho com biscoito de polvilho, ao mesmo tempo que trabalham suas habilidades e perseverança na criação das bonecas!




E vem chegando a hora do corpinho...


E quem diria que isto ainda vai virar uma boneca bonita assim, ô:

E breve aqui, mais fotinhas do nascimento de nossas bonecas!!


Imagem: Boneca Waldorf - retirada da internet
Outras fotos - arquivo próprio