terça-feira, 15 de maio de 2012

"Estou fazendo uma casinha, uma casinha de verdade"


O que é que existe de tão relevante no primeiro setênio? Podemos dizer que, neste momento, a criança está “ocupada”, construindo sua própria casa que, mais tarde, será morada de tantas habilidades e talentos.  É nessa hora que todo o corpinho da criança se desenvolve para que, finalmente pronto, no segundo setênio, seja capaz de receber tantos conhecimentos novos.

Para que a criança possa, de fato, ocupar-se com sua árdua tarefa, os adultos que a conduzem devem cuidar para que o ambiente em que ela brinca favoreça, ao máximo, o desenvolvimento dos seus sentidos básicos (movimento, equilíbrio, tato e vital). Não é à toa que, diariamente, procuramos deixar a sala de aula sempre bonita e arrumada com brinquedos adequados, um parque com areia, árvore, grama, pedras, cores, sons, texturas, cheiros…

Mas o espaço bonito, por si só, não alimenta – nem faz crescer. É preciso cuidar do tempo, é preciso ter ritmo. Durante todo o período em que estão na escola, há momentos de concentração e expansão. Esse cuidado com o ritmo respeita os momentos em que, ora a criança deve estar no mundo, convivendo no social, ora consigo mesma, no seu próprio ninho, quando precisa se recolher.

Ritmo é saúde. Ritmo é vida. Não só para as crianças, mas para nós também. Quando trabalhamos demasiadamente parece até que nos esquecemos de respirar – e adoecemos. Assim é a vida: nascemos e morremos, dormimos e acordamos, trabalhamos e descansamos. Inspiramos e expiramos. Somos, organicamente, ritmo. Mas que o ritmo seja realmente orgânico – e, não, mecânico, como um relógio. É preciso que tudo, inclusive o ritmo, possa ser visto (e vivido) com leveza.

No primeiro setênio, as crianças enxergam o mundo através dos nossos olhos. Se, para nós, o mundo é belo e a vida vale a pena ser vivida, para a criança, que está ao nosso lado, também. Daí a nossa responsabilidade como adultos ser tão grande. De olhos fechados, a criança confia nos pais e nos professores porque, para ela, somos “gigantes heróis que conhecem todos os segredos do mundo”! Que possamos nos fazer dignos dessa confiança.

Enquanto isso, caminhando e cantando (na verdade, quase sempre correndo ou saltitando e, às vezes, chorando), a criança vai construindo a sua morada, a sua casa, o seu ninho. Tudo o que nós queremos é que esse ninho seja tão aconchegante quanto forte e que agüente, firme, as tempestades, para receber, no dia seguinte, o calor dos raios de sol. Tudo o que nós queremos são crianças felizes capazes de viver (bem viver) o mundo como ele é, com seus antagonismos e certezas, suas tristezas e alegrias. Crianças capazes de viver com verdade. De verdade.

por Escola Waldorf Jardim das Amoras
Texto: Patricia Nakai, Professora do Jd. II da manhã.
Imagem: Arquivo Próprio

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