terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Importância dos Contos Clássicos para as Crianças



Este texto tem o intuito de discorrer, brevemente, sobre a importância dos contos clássicos no desenvolvimento infantil. Este tipo de literatura tem encontrado, muitas vezes, uma barreira dentro da própria escola, tendo seu conteúdo alterado, modificado, ou mesmo relegado a segundo plano pela crença equivocada de que seja psiquicamente prejudicial para as crianças. Uma dúvida que se coloca na escola é quanto ao temor de alguns pais ou responsáveis sentirem-se ameaçados pela história que apresenta um dos genitores como mau, e se teme que a criança possa voltar-se contra o mesmo em casa. Como professora de educação infantil, tive a experiência de ouvir a mãe pedindo para não contar historias que houvessem madrastas porque isto poderia fazer com que a filha ficasse com raiva dela.

Nada mais equivocado, uma vez que lidando com a questão dos conflitos colocados no conto, a criança fica mais apta a lidar com os seus próprios, pela compreensão de que se ela tem, às vezes, um sentimento não muito amistoso em relação aos pais, isto não faz dela um monstro.
Segundo o psicólogo infantil Bruno Bettelheim, ao contrario do que muitos pensam, o conto de fadas direciona a agressividade de modo mais saudável, porque permite a criança averiguar que os sentimentos de raiva, vingança, medo, existem para todos e não só para ela, que muitas vezes, se sente mal por percebê-los dentro de si. Segundo o autor, os contos clássicos levam muito a sério os dilemas existenciais e se dirige diretamente a eles; como a necessidade de ser amado, o medo de ser considerado sem valor, o amor pela vida e o medo da morte.

É bastante comum, pessoas que trabalham com a criança e não somente os pais, sentirem um certo receio de contarem estas historias alegando que sejam de conteúdo muito forte, e que podem causar traumas a ela. O que é preciso entender, é que o conto clássico nada mais é do que a representação psicológica dos medos humanos mais comuns. E ao deixar de contar essas histórias a criança, perde-se a oportunidade de ajudá-la com seus medos e angústias a que, por certo, todas estão sujeitas, uma vez que o mundo circundante não é feito só de beleza e amabilidades. Sendo a criança o ser inteligente que é, percebe isto muito bem e não há porque enganá-la.
Em praticamente todo o conto de fadas, o bem e o mal são corporificados sob a forma de algumas personagens e suas ações, uma vez que o bem e o mal fazem parte da vida de todo ser humano se vê propenso para ambos. Essa dualidade traz a tona o problema moral que requer a luta para resolvê-lo. As personagens dos contos de fadas são ambivalentes, ou seja, ao mesmo tempo boas e más, como são os seres humanos em realidade: nesse caso, elas são do bem, determinadas pelo bem, ou mal e essa polarização é o que permite a criança compreender a diferença entre ambas, uma vez que quando ela se coloca do lado dos heróis, ou do bem, ela está na realidade escolhendo aquilo que desperta sua simpatia, não necessariamente pelas suas qualidades. Aqui o problema que é colocado é o de com quem ela quer parecer e isto é decidido com base na sua projeção entusiástica, numa personagem. Quanto mais simples e direta a personagem boa, tanto mais fácil para a criança identificar-se a ela e rejeitar a má. Como diz Bettelheim justamente porque a vida é com freqüência desconcertante para a criança, ela necessita mais ainda que lhe seja dada a oportunidade de entender a si própria nesse mundo complexo com o qual deve aprender a lidar.

Bibliografia

BETTELHEIM,Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra,2007.

PENTEADO,Maria Heloisa. Os sete corvos. São Paulo: Ártica,1992. (Contos de Grimm).
Autora do texto: Eliane de Oliveira Martins Gonçalves.
Professora de educação infantil,
Gestora comunitária de educação pela prefeitura de São Carlos
www.mundoescolar3.blogspot.com

imagem da internet

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